A emancipação do sexo !

11/10/2010 19:28

 

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Ah, a pré-adolescência. Período conturbado, recheado por descobertas embaraçosas, dando início a inúmeras modificações físicas e gerando o real interesse pelo sexo. Espinhas, pêlos, odores, secreções, vontades, seios, nádegas, coxas, estando os três últimos ítens no corpo feminino e no imaginário masculino. Não há dúvida de que é uma época mágica, embora desesperadora. A ansiedade para envelhecer, amadurecer e gozar, sem duplo sentido, das maravilhas de uma vida adulta torna-se ainda mais latente. Contudo, ao que podemos lembrar da sincronia desses ítens estarem associados a uma faixa de idade quase padrão, podemos observar, hoje, que há uma deturpação no modelo que serviu por tanto tempo. Em suma, crianças estão despertando mais cedo do que tão comumente aceitamos.

 

Disse um amigo, ainda há pouco tempo: “Acordei hoje de manhã e, ao sair do meu quarto, deparei-me com uma situação horrível. Minha irmã estava vendo um site pornô. Eu fiquei paralisado e só falei: ‘COMO ASSIM JOANA?!’ – ela tomou um susto enorme e na mesma hora minha mãe entrou na sala. A Joana ficou em prantos pedindo desculpas e minha mãe tentando lidar com a situação”.

Uma história que poderia até ser considerada comum, dada a quantidade de vezes que pré-adolescentes já foram humilhantemente capturados em momentos embaraçosos, mas não nesse caso. Joana, a irmã em questão, encontra-se na ínfima idade de oito anos (sim, companheiros, nasceu em 2001). A menina, desesperada, alegou o óbvio: “o site apareceu na tela sem eu fazer nada, eu não sabia, foi sem querer”. Bem, meu amigo, curioso que só, provou o contrário. Ao checar as pesquisas recentes do Google, encontrou: “homens transando” e “homens monstrando o pinto” (embora eu não tenha certeza sobre qual dos dois foi responsável pela busca. Moving on!)

A história de Joana não foi a primeira em que presenciei uma menininha desmontrando interesse pelo sexo ou pelo corpo masculino. Ainda esse ano, presenciei uma filha de um casal conhecido, de apenas sete anos, mexendo de forma quase pornográfica no local onde deveria estar o pênis de um manequim nas Lojas Americanas. O pior foi que, ao horror da situação, o que fica é somente o embaraço de não saber o que fazer ou dizer. A melhor opção sempre acaba sendo deletar a imagem da cabeça.

Não posso dizer até que ponto isso é uma manifestação do século XXI, pois afinal de contas, a única geração que pude acompanhar além dessa foi a minha própria, daqueles que passaram a infância e pré-adolescência na década de 90. O que posso dizer, contudo, é que sem o advento da internet, não tínhamos lá tanto acesso assim a imagens e vídeos demonstrando o que representa o ato sexual (ou melhor, o que a mente insana dos diretores de filme pornô pensam que representa). Até os dez anos, nossos interesses eram apenas em jogar futebol, brincar de Comandos em Ação, jogar Futebol Club Gulliver, gastar horas no Mega Drive e fugir de ficar de castigo. Somente lá para os 11-13 anos é que o desejo sexual aflorou, embora tivéssemos de apelar para revistas e vídeos cassete de pais, avôs e outros membros da família, de forma absolutamente escondida. O sonho em como seria encostar num seio feminino era mais do que nossas mentes precoces poderiam suportar e cometer o ato sexual, em si, parecia ainda mais distante. De fato, a perda da virgindade só veio, na maioria, lá pelos 15-16 anos, dando início a uma adolescência mais adulta.

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Mas até que ponto devemos esperar que o maior acesso à cultura e liberalismo sexual possa ter um reflexo positivo em nossas próximas gerações?

Um fator que para mim é inegável: o sexo é um ato de prazer. É a busca humana pela satisfação, um interesse basicamente natural, exceto se você for o Sheldon. A ideologia de “sexo é amor” foi criada pelo próprio ser humano, por interesses que podemos somente especular. A manifestação anti-sexo, anti-promiscuidade e em defesa da transa somente dentro do casamento ou quando houver bastante sentimento nada mais são que tabus criados pela própria sociedade e que hoje permanecem, após séculos de influências diretas proibindo o “ato libidinoso” de todas as formas possíveis. Necessário lembrar que a religião, agindo como intermediária de um suposto julgador sobrenatural, foi a que desempenhou o papel mais importante nessa taxação extremamente negativa do sexo.

Então, o que poderíamos imaginar que teria acontecido caso todas as setas da vergonha não tivessem sido apontadas para o ato? Será que teríamos uma sociedade livre de preconceitos e agindo conforme suas vontades? O sexo talvez seria visto como apenas um ato de prazer, sem o pudor feminino e o despudor masculino? Enfim, são apenas suposições, que muito possivelmente teriam acontecido, embora não tenhamos a capacidade de dizer se teriam sido positivas ou negativas para a sociedade, da mesma forma que não podemos dizer que o pudor e o tabu hoje exercidos são, de fato, positivos ou negativos. Estamos condicionados ao ideal presente, dele dificilmente podemos nos desvencilhar, mas certamente não podemos ignorar. E é justamente por não podermos ignorar, que o pensamento vem a tona como um tsunami: “crianças não deveriam estar vendo sites pornô”.

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Mas por que pensamos isso? E por que as crianças não deveriam ter contato com qualquer assunto mais quente sobre a sexualidade humana?

Muitos diriam que as crianças ainda não estão preparadas psicologicamente para o sexo. Outros diriam que isso é a porta de entrada para a criança acabar saindo dos caminhos certos (em outras palavras: meninas virarem putinhas e meninos, comedores). E ainda poderíamos ouvir aqueles outros dizerem que “meninos tudo bem, mas meninas não”! Porém, se analisarmos de forma nua e crua, taxando o sexo como a busca pelo prazer e como ato absolutamente natural do ser humano, que é um animal da natureza acima de qualquer coisa, então podemos definir que todo esse tabu é resultado da criação de uma norma de conduta, uma regra humana desenvolvida para chegarmos mais próximos da harmonia. Discordar desse código de comportamento, contudo, já virou padrão. Será que nossas crianças caminham para a descoberta cada vez maior do sexo, até chegar ao ponto de ser comumente visto e igualmente aceito crianças de 8-9 anos transando umas com as outras? Raciocinando sobre o que era a sociedade nos últimos cem anos e onde ela se encontra agora, com pais dizendo que é absolutamente normal uma menina de oito anos criar interesse e visitar um site pornô, não sei exatamente como estaremos daqui a mais cem.

Pessoalmente, não me preocupo com o romancismo do sexo, com a poesia e a luta do cavaleiro em conseguir adentrar os interiores do palácio da princesa. Não defendo a pregação do sexo como um ato cheio de pudor e extremamente imoral, conforme pregado tão fortemente pela adorada igreja e que resulta no pensamento que muitos temos hoje. Não, minha preocupação não reside na morte do sexo bonitinho, pois de bonito o sexo nunca teve nada, a menos que esteja sendo mal feito. Minha grande procupação, contudo, é que no meio do caminho da busca pelo liberalismo e desprendimento dos tabus do passado, acabemos esquecendo o objetivo mais fundamental que a humanidade necessita: a harmonia entre os seres humanos. E, se no trajeto desse liberalismo, encotrarmo-nos em meio ao simples sexo, drogas e rock’n roll, sem mais o colorido da vida humana, aí sim teremos perdido muito mais do que o que não podemos encontrar hoje.