Depressão e Sexualidade!

18/08/2010 12:07

 

 

Antes de começar o texto preciso dizer que tudo o que eu disser abaixo não tem nenhum embasamento científico já que eu não sou uma estudiosa no assunto. Minha relação com a depressão é prática. Sou uma mulher de trinta e seis anos que passou por duas crises depressivas sérias – uma delas que culminou em uma terrível síndrome do pânico, que só quem teve sabe o que é – e hoje, apesar de eventualmente me dar ao direito de ficar triste, tenho conseguido levar a minha vida longe da depressão.

Cada um sabe os motivos que o levaram a um quadro depressivo, ou não. O que sei é que um dia a gente acorda e não quer levantar da cama, não quer falar com aquela pessoa que sempre foi uma companhia agradável, quer ir trabalhar, mas simplesmente não consegue e no meio disso tudo, eventualmente – ou sempre – se debulha em lágrimas por qualquer coisa e nem grávida está. Isso sem contar que aos olhos do mundo, a pessoa está de dengo, pra não dizer coisa pior.

Frases do tipo: “Sai dessa!”, “Você tem que reagir…” ou “Sai desse quarto na marra, basta querer!” São o que há de pior para um deprimido, porque se fosse “só” isso, qualquer um já teria feito sem ter que receber os olhares de raiva, pena ou insatisfação de quem está a nossa volta. Muitas vezes o deprimido nem percebe que está mal. Vai trabalhando e vivendo no piloto-automático. E sinceramente? Feliz de quem consegue isso, pelo menos a vida não parou como a minha.

E onde fica a sexualidade da gente nesse bololô todo? Bem, a minha deve ter se esvaído pelo ralo do chuveiro, junto com as lágrimas muitas vezes debulhadas lá, para esconder do mundo que chorei. Eu, que me considero uma mulher sexualmente forte e decidida, virei um bibelô de cristal, qualquer coisa poderia arranhar ou quebrar. Isso sem contar as mudanças corporais. Com a auto-estima baixa sequer nos olhamos no espelho e eu, particularmente, em meses me transformei da Cinderela à Anastácia ou Drizela, a irmã feia que preferir.

Nem mesmo uma grande paixão foi capaz de manter minha libido em alta. E como não tem homem que agüente muito tempo sem sexo. Nunca saberei se foi antes da crise ou depois que ele arrumou mais algumas e ainda me deixou com complexo de personagem de Nelson Rodrigues. “Perdoa-me por me traíres”. E tudo pode até parecer bem divertido sendo contado dessa forma, mas não foi nada engraçado pra ele, ou pra mim, após meses sem ele e uns 600 km de viagem pra cansar um tiquinho mais, ter o pau coladinho à minha bunda sem nada fazer. Não trepamos porque eu não conseguia, apesar de amá-lo não tinha a menor excitação. E quando menos de três meses depois viemos a terminar, porque descobri uma mulherada na vida dele, nem preciso dizer que o fato me foi jogado à cara.

Quando comecei com os anti-depressivos, ansiolíticos e outras drogas, piorou. O que antes era de vez em quando passou a ser sempre. Durante meses me tornei um ser assexuado. E eu que sempre amei fazer sexo, me vi completamente desmotivada ao ato. Namorar então, pra que?! A xota vivia mais seca que deserto. Pau se tranformou em objeto de mínima necessidade. Nem tesão para me masturbar eu tinha, acreditem… Tempos difíceis aqueles. A fase da medicação é complicada, mas passa. Porque anti-depressivos não causam dependência química, mas… A pessoa tem que desejar e fazer por onde tratar-se.

A verdade é que não saí desse quadro depressivo por encanto. Nenhuma fada boa veio com sua varinha de condão me tocar a testa e dizer: “Salagadoula, michicaboula, pift paft boula!” Foram horas no psiquiatra, tentativas de tratamento, remédios, um não deu certo, troca. Aumenta dose, diminui. Faz psicoterapia, chora, ri, fala… Muito! Foram quase três anos nessa brincadeira sem graça, dois em tratamento médico. E nem reclamo, poderiam ter sido mais. O que sei é que o piripaque foi brabo, mas tem tratamento e cura. Ainda bem!

Já imaginou euzinha, gostando do negócio como eu gosto, virando uma celibatária? Nananinanão… Não tenho nenhuma vocação para freira. Passei a maior fase desse período só. Na verdade foi um período sem nenhum namoro, só a equipe de manutenção de sempre. Meus meninos e alguns amigos fiéis. Compromisso não. Confesso que sou bem mais calma hoje, muito mais seletiva e bem menos abusada. Se sempre fui meio estranha, hoje em dia sou um tiquinho mais, pois só faço rigorosamente o que gosto e tenho vontade. Recentemente passei seis meses sem sexo, e nem virei lagartixa por isso. Descobri que entre estar só ou mal acompanhada, nem preciso pensar muito. Masturbação existe pra que?!

Não sei ao certo porque fiz este post, mas talvez tenha sido para mostrar que mesmo uma B. da vida tem direito a seus momentos depressivos. Que não é nenhum charminho, mas também nenhum bicho de sete cabeças. Mocinhos e mocinhas que estiverem com problemas, libido em baixa, a cabeça cheia de caraminholas, não esqueçam que os médicos estão aí pra isso, cuidar! Não mordem não.