Um homem, uma mulher, homem com homem, mulher com mulher, se esfregando como bichos, um tentando enfiar membros pontiagudos no outro, furando a carne, trocando fluidos anti-higiênicos.
Começa com aquela língua molenga balançando na boca, como se procurasse um tesouro. E entre cuspes e restos de comida, fica a língua intrusa, pra cima e pra baixo, pro lado e pro outro, uma cobra sem rabo, chacoalhando, chacoalhando. Sente-se mau hálito de dentes escuros e o gosto de cigarro; e escorre filetes de uma escarro. Depois, a língua se arrasta pelo pescoço, lambuza a carne, xereta a orelha, e entra nela!! O que a merda daquela língua faz dentro da orelha?!
E fica gemendo, fazendo barulho, acordando os vizinhos, perturbando a ordem. Tira a roupa e a roupa se enrosca; uma calcinha mal lavada, fedida, jogada na cama. Vê-se a unha encravada, o pé mal lavado e a frieira incurável. Vê-se os abcessos na virilha, os hematomas na coxa, e sente-se o cheiro de peixaria no ar.
Vem pro abraço, com os braços se cruzando, se atrapalhando. Sobe no estômago, e me lembro do almoço pesado, e quase vomito; e seu brinco quase rasga meu rosto; e seu anel quase fura meu olho. O suor é forte, cheira mal. E tem aquela coisa toda molhada, nojenta, com pêlos que coçam, roçam, irritam. E faz uns barulhos desagradáveis que lembram a degola de um sapo, o atropelamento de um rato. E que merda a unha dela faz nas minhas costas?
A cama geme, prestes a desabar. Vejo suas grades se arrastarem contra a parede toda branca, recém-pintada, e vejo sulcos, agora se manchando. Subitamente, ela aperta o ritmo, fecha os olhos, e enfia novamente a língua na minha boca; agora quer o quê, lamber a parede do meu estômago? Sai pra lá!
Me desgrudo, prendo, com a mão, seu pescoço, alcanço, com a outra, o machado, e decepo a infeliz criatura. Agora com a paz, sem línguas intrusas, bocas mal lavadas, gemidos assustadores, com unhas imóveis, o corpo seco e frio, até que dá para se pensar no assunto.