A Bissexualidade Feminina!
20/04/2011 14:34
A Bissexualidade Feminina - Característica inata, opção consciente, estágio comportamental, exercício da liberdade, terceiro sexo - todas essas possibilidades já renderam páginas de teses, mas pouco contribuíram para que as mulheres bissexuais se assumissem. Camufladas entre aquelas que amam exclusivamente homens e aquelas que amam apenas mulheres, elas parecem invisíveis. Há indícios, porém, de que sejam muitas.
Do projeto de prevenção da Aids coordenado pelo Grupo Lésbico da Bahia, participaram 300 mulheres bissexuais - três vezes mais que o número de lésbicas. "Muitas se mesclam perfeitamente bem em grupos hétero e em grupos gay", revelam as terapeutas americanas Elizabeth Oxley e Claire Lucius, bissexuais, no artigo Looking Both Ways: Bisexuality and Therapy. Para outras, envolver-se apenas com um deles significa negar uma parte de si mesmas. "A verdade é que elas estão muito isoladas", diz Oxley. E muitas, confusas.
É comum ouvir contradições nos relatos de quem experimenta o sexo com eles e com elas. Umas se definem como anormais e transitórias; outras se sentem incomodadas em ter de encontrar um grupo para se encaixar; há aquelas que defendem a tese do amor por indivíduos, não por pênis ou vaginas. Seja qual for a definição, a bissexualidade nos obriga a rever pontos de vista, mitos e preconceitos sobre sexualidade. "Aprisionamos o sexo no casamento fiel e heterossexual e quem exerce a sexualidade livremente nos incomoda", analisa uma psicanalista e sexóloga. "Esquecemos que o tesão não tem lei, está livre de imposições sociais. Podemos sentir desejo por ambos os sexos. Desde quando a versatilidade sexual virou uma qualidade tão negativa?", completa a sexóloga. Talvez a partir de 1869, quando a medicina decidiu estudar a homossexualidade como patologia.
Os sentimentos e comportamentos diferentes da heterossexualidade sempre aconteceram em toas as sociedades e culturas, independentemente de serem primitivas ou avançadas", relata um psiquiatra e professor da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana. "As pessoas não podem ser classificadas pela forma como vivem a sexualidade. Dessa classificação nascem os estereótipos e preconceitos", complementa.
Uma mulher heterossexual, então, pode experimentar a sensação de estar com outra na cama sem se tornar bissexual. "A circunstância não muda a orientação sexual de ninguém", afirma um especialista. "O bissexualismo não é uma possibilidade que está na mão de todos. É preciso existir a atração por ambos os sexos e sentir-se realizado à medida que os desejos são satisfeitos", completa. O desafio, concorda a maioria dos terapeutas, e não cair em extremos: reprimir a libido ou forçar-se a fazer algo por causa de padrões sociais de conduta.