Como trair sua mulher… com ela mesma
09/07/2011 16:58
Será que a traição é o segredo para um casamento saudável?
Às vezes acontece sem querer, como na história real que relatei aqui em 2007: “Como ser o amante de sua própria esposa”. Mas meu interesse é experimentar tal inversão de modo consciente e lúdico.
Anteontem eu estava num chat rápido com minha namorada, convencendo-a a vir pra cá, em postura de solteiro xavecador profissional, quando me dei conta das inúmeras vezes que trato minha namorada como se ela não fosse minha namorada.
Logo compartilhei via Twitter:
Pra minha surpresa, algumas pessoas responderam sem entender. Rafael (@herrwingnux) perguntou “Como???” e Beatriz (@biatoso) disse: “Será? Explica como!”. Já a Claudia (@clau_arantes) sacou e pediu que eu ensinasse o passo-a-passo para homens. Vamos ver… Abaixo minha tentativa.
Sedução: a diferença entre amantes e maridos
Vamos começar comparando 2 conversas. A primeira entre duas pessoas que mal começaram a se explorar e a segunda entre um casal que namora há tempos. Em ambos, a intenção do cara é sexo irrestrito (novidade!).
Ele: Seguinte, vou passar aí e vamos aproveitar a única noite que presta no Rey Castro.
Ela: Não, hoje não vim preparada pra sair, to cansada, suja, imprestável… Amanhã?
Ele: Amanhã a banda é outra. Suja? Você acha que eu quero perfume? Eu quero você.
Ela: Hum… Continua…
Ele: Continuo, sim, mas dentro do carro assim que você entrar. Aliás, já cheguei, tempos modernos, to teclando do cel. Desce!
Ela: hahaha… Ok, te espero.
Seis linhas bem objetivas e temos mais um casal feliz no mundo. Eles são casados com terceiros, mas isso é o de menos em nossa análise. ;-) Vamos ao segundo casal:
Ele: Hoje é quarta, tem aquela banda de salsa no Rey Castro. Vamos?
Ela: Não, hoje não vim preparada pra sair, to cansada, suja, imprestável… Amanhã?
Ele: Amanhã a banda é outra. Mas tudo bem, a gente vai semana que vem. Amanhã a gente vê um filme, então.
O problema é que ele não queria sair com ela amanhã. Seu corpo estava bombando hoje, seu desejo, sua potência, o brilho no olho. Muito a oferecer. A salsa, não o cinema. Hoje! Não amanhã, porra! Tem dias que surge uma potência que precisa ser oferecida, como se fosse um presente que vem junto com uma bomba relógio. Um vigor que que não pode acabar em masturbação, que vem junto com uma vontade de atravessar nossa mulher, tirá-la do chão, fazê-la sorrir com cada uma das células até relaxar completamente com os cílios roçando em nosso peito. E ainda dizem que homem não vincula sexo a amor… Aham.
Dizem também que homens pensam com a cabeça de baixo. Mentira. Se homens ouvissem mais o próprio pau, eles não aceitariam “Não”, eles não cederiam ao cansaço – que era o verdadeiro interlocutor no lugar da mulher. O pau é preciso, insistente (como um sedutor profissional), imóvel, impetuoso, paciente: quando quer algo, faz de tudo pra conseguir, continua, continua, continua, até chegar em seu objetivo. Seus donos poderiam ser assim, não?
A mulher queria a salsa (ela reclamava silenciosamente por eles sempre terem adiado essa noite), mas o cansaço estava maior. Era preciso um homem para ajudar a quebrá-lo e injetar ânimo em suas veias. Um homem para abri-la às possibilidades da noite que ela mesma sempre quis.
Seu namorado muitas vezes não é esse homem. Ele a respeita, ele sabe como ela fica quando está cansada, ele aceita, tem a certeza de que a relação vai continuar, semana que vem eles vão, tem o cinema amanhã, é só chegar e beijar, ela é sua namorada quase noiva, a data do casamento só depende daquele padre, ele já comprou o anel, sexo garantido, vão assinar papéis, é sua mulher, sempre disponível, só ligar. Não sabe mais o significado de urgência. Ele não é seu amante.
Por isso às vezes penso que toda namorada eventualmente deveria se fazer de difícil, caso contrário o cara vai acabar exercitando suas habilidades de sedutor com outras. Ou pior: vai perdê-las.
O tesão masculino não é exatamente o sexo, mas a sensação de romper, ultrapassar, superar barreiras, limites, obstáculos, desafios. Hímen, manha feminina, mistérios do universo, oscilação das ações, confusões da mente, segredos do empreendedorismo, recordes dos esportes… É isso o que nos move. Quer conquistar um homem? Deixe um problema na mão dele. É assim que empresas conseguem ter homens ao redor por mais de 8 horas diárias, é assim que mulheres conseguem um pai para seus filhos.
Envolvimento: sobre como congelamos nossos parceiros
Na Cabana PdH, às vezes me assusto com o modo de que alguns caras falam de suas parceiras. Se o tema é relações paralelas, traição, ciúme, ele afirma com toda a certeza do mundo: “Ela nunca aceitaria isso, sofreria, acabaria com tudo”. Se o tema é sexo, mais certezas: “Ah, não, isso já tentei mil vezes, ela não gosta. Fazer o quê?”.
Minhas respostas são sempre variações da seguinte pergunta um tanto cruel: “Imagine outro cara com ela. Você tem certeza absoluta de que ela agiria do mesmo modo?”. Sempre desconfio de caras que dizem conhecer suas mulheres.
O envolvimento usual entre duas pessoas parece causar uma crescente solidificação de identidades. Quanto mais eles se conhecem, mais excluem outras possibilidades. Fecham espaço para surpresas e ainda tem a coragem de reclamar disso ao fim: “Não dava mais, acabei. Era tudo muito previsível, ele parou de me surpreender…”. A amiga deveria responder: “Mas é claro! Você mesmo impedia o cara de te surpreender”.
Num certo sentido, somos todos um pouco mães de nossos parceiros:
–Filho, por que você tá comendo esse mousse da sua tia? Você não odeia qualquer coisa com maracujá?
–Odiava, mãe, odiava. Mudei desde que sai daqui.
–Tá bom, mas come esse pavê que eu fiz pra você.
–Não gosto de pavê.
–Mas você adora pavê, filho! Lembro de como raspava a tigela… Toma, já coloquei pra você.