O vigor do erotismo feminino

18/04/2011 16:03

Tenho insistido na importância de se entender e estender as reais dimensões da sexualidade. Elas vão muito além do sexo, implicando um erotismo amplo que inclui toda a captação corporal e a sensibilidade anímica.

Os órgãos do sentido trabalham os sinais objetivos aferentemente enquanto os granjeios da alma imanizam os subjetivos, aumentando a abrangência das nossas sensações e interpretações prazerosas.

No fim-de-semana passado, estive no Rio de Janeiro. Tenho especial carinho por aquela tão linda e nem sempre bem tratada urbe.

O charme histórico, a deslumbrante paisagem natural, a vigorosa programação de eventos culturais, as atrações tradicionais, os detalhes criativos dos modismos, das novidades, e a gastronomia diversificada são cativantes. Neste clima outonal, o calor brando de abril, sem temporais, tornou o cenário mais encantador.

Os grandes problemas cariocas, tais como a violência e o tráfico de drogas, abalam a bela reputação da cidade, infelizmente. Também me parece que o Rio ainda não se recuperou da perda do status de capital do País nem de ter sido superada por São Paulo em tamanho e população. Observam-se ressentimentos, inconveniências provincianas em relação a Brasília e excessos bairristas diante dos temas paulistanos.

Mas a estética privilegiada e a ética peculiar prevalecem. Rever a orla, caminhar pelo calçadão das praias, tomar um café na Confeitaria Colombo, assistir a uma boa peça de teatro, foi tudo muito gratificante.

Mais especial e deliciosa foi a comemoração dos 85 anos de uma pessoa muito querida. Personalidade extraordinária, minha única tia paterna, Odette, foi homenageada e festejada nesta nova etapa de sua preciosa vida.

Meu pai viveu uma temporada no Rio quando solteiro. Depois, ela, já casada, morou lá também. Ambos me apresentaram as primeiras referências da Cidade Maravilhosa.

Os ascendentes maternos de Ricardo, meu primogênito, são cariocas e fluminenses. Nos anos 70, pude conhecer pessoalmente os detalhes do Rio. Hoje, quando lá volto, é por conta das queridas tia Odette e primas.

Há quase trinta anos, ela e a genitora, minha avó Ernestina, viúvas, mais as filhas Olenka e Cláudia, tiveram coragem e tenacidade para ir à busca de uma magnífica realização. Alimentaram, em Campinas, a expectativa de um grande sonho e partiram para efetivá-lo em outras plagas, até o aperfeiçoamento no Rio: a carreira de Cláudia Raia.

Equilibrando o choque de gerações, os valores da mãe e os das duas filhas (a primeira, uma adolescente, e a segunda, ainda púbere), Odette soube conduzir o barco familiar com brio e ousadia, mesmo depois da morte de Ernestina.

Atualmente, mesmo com um prejuízo da visão, continua vibrante, alegre e fecunda, com um excepcional erotismo existencial, uma rara vitalidade.

Mulheres espiritualmente fortes são fontes modelares de amor. A alma cultural e a beleza excepcional do Rio favorecem a pujança dessas expressões.