Prazer íntimo

10/03/2011 13:26

 

A MASTURBAÇÃO NÃO É SO PRAZER. É AUTO-CONHECIMENTO





Uma prática comum, uma vergonha, um tabu. Algo que suscita tantas opiniões só pode ser bom. Pois a masturbação está normalmente entre os maiores debates femininos. Se entre os homens é algo comum desde a pré-adolescência, por que para nós, mulheres, é um assunto tão complicado? Vá a um grupo de amigas e pergunte quem se masturba. As respostas tendem a ser negativas e com um ar de horror. Por mais que elas respondam que não praticam, acredite: fazem, pelo menos, de vez em quando. Então, qual é o motivo de não conseguirmos conversar abertamente sobre isso? É algo tão natural e prazeroso. .. “Penso que a masturbação importante para conhecer o próprio corpo, especialmente o feminino, que é muito delicado e cheio de sensações por todas as partes”, acredita a bancária Maria Eduarda*. Afinal, se não sabemos como alcançar o prazer, como poderemos guiar nosso parceiro em tamanha aventura? “O processo de excitação da mulher é mais longo, por isso precisa de uma dedicação maior. Quando a mulher conhece o próprio corpo, é mais simples”, explica a psicóloga Cristina Romualdo, autora do livro Masturbação (ed. Expressão e Arte).

Por que é um tabu?

Diversos fatores tornaram a masturbação um dos maiores tabus da sexualidade. Um deles é o religioso. A maioria das religiões defende que o sexo deve ser feito única e exclusivamente para a procriação – o que torna o prazer um pecado. Como a masturbação é limitada ao prazer, ela se torna algo condenável, e impensável para os religiosos. A outra razão é cultural. Meninas aprendem desde pequenas que é errado tocar nos genitais. “Tanto é que muitas mulheres se masturbam se esfregando em alguma coisa, sem tocar na vagina”, conta Cristina. A passividade feminina é outro ponto que acaba prejudicando. “As mulheres imaginam que só conseguem alcançar esse prazer se o homem a estimula e a toca”, explica a psicóloga.

Masturbação e manipulação

Aos dois anos e meio, três anos de idade, a criança começa a perceber em que pontos do corpo sente prazer. “Esse toque não é erotizado, por isso nem chamamos de masturbação, mas de manipulação”, diz Cristina Romualdo. A maneira que os pais lidam com o estímulo da criança na região da vagina, define como ela vai encarar a masturbação mais tarde. O ideal é conversar com a criança e dizer que, sim, é prazeroso, mas deve fazer isso no quarto, no banheiro ou em um local mais reservado. “Assim como as refeições são feitas na mesa, as crianças devem aprender que existem lugares para fazer cada tipo de coisa”, mostra Cristina. É só na adolescência que a masturbação se torna um ato erotizado, quando fantasias e desejos começam a estimular o toque.

Hoje, meninas entre 14 e 15 anos conversam abertamente sobre o tema – e muitas vezes sabem bem mais sobre ele do que as mães, na faixa dos 40, que geralmente sentem-se obrigadas a se tocar porque “todo mundo faz”. Mas a visão sobre a masturbação deve mudar nas próximas gerações. “Só mudará quando as mães virem o toque como algo espontâneo, natural”, destaca a psicóloga.

Do começo

Se você nunca se masturbou, seja pelo motivo que for, e não tem idéia de como fazê-lo, o mais fácil é começar dentro do banho. Com um chuveirinho em mãos, dirija o jato de água ao seu clitóris. Tome cuidado para o jato não estar muito forte ou muito quente, senão há o risco de se machucar. Se tem uma banheira é interessante tentar com o jato da hidromassagem, que segue o mesmo princípio do chuveirinho, mas não é necessário segurá-lo.

Agora, se não tem problemas em utilizar as mãos, tudo o que precisa é de um lugar calmo, onde ninguém vá te “pegar no pulo”. Aí o que vale é a criatividade e o que faz você sentir prazer, mas existem duas maneiras básicas. A primeira delas é estimular o clitóris com os dedos usando movimentos circulares. Esta forma geralmente dá prazer mais rápido. Outra, é fazer uma massagem no clitóris com os dedos indicador e polegar. A introdução ou não de dedos na vagina é critério da cliente!

Uma outra forma de se masturbar é utilizando “brinquedos”, como consolos e vibradores. Embora tenham formatos um tanto fálicos, eles não precisam, necessariamente, ser colocados na vagina. Use os movimentos vibratórios para estimular o clitóris. Lembre-se: cuidado para não introduzir objetos pontiagudos ou pequenos, que possam se perder dentro de você! Além disso, tenha certeza de que eles estão limpos, e até coloque uma camisinha neles, se for o caso, para evitar qualquer tipo de contaminação.

Relaxe

Embora as dicas funcionem para a maioria das mulheres, o importante é descobrir o caminho do próprio corpo. De nada ajuda ficar encanada com a masturbação, achando que é algo errado ou reprovável. “É essencial fazer até para descobrir se você gosta ou não, se é importante ou não, se vale a pena ou não”, explica a psicóloga Cristina Romualdo.

Depoimento

“Para começar (pelo menos era o que eu fazia quando não estava acostumada) o ideal é estar em um ambiente onde você tem certeza de que não será perturbada. Não só pelo risco de ser pega, mas também porque ficar preocupada em se esconder corta o clima. Sempre, impreterivelmente, lave as mãos e corte as unhas. Uma música também vai bem. Eu começo pensando em algo gostoso, que não precisa ser necessariamente sexo. Começo tocando os meus seios, bem devagar, até deixar os mamilos durinhos e a pele um pouco arrepiada. Passo a unha de leve pela barriga, coxas, até ficar excitada. Só aí toco minha vagina. Passo a mão delicadamente por toda a região, encontro o clitóris e começo a estimulá-lo, bem de leve. Quando sinto que estou muito excitada, começo a me penetrar com dois dedos bem devagar. Aumento e reduzo o ritmo conforme a minha vontade. Toco meu clitóris sempre. De tempos em tempos dou uma pausa para tocar outras partes do meu corpo, como pescoço e nádegas. Levantar e abaixar o quadril ajuda a vagina a se contrair e aumenta o prazer. Experimente fazer isso quando estiver bem excitada, como que pedindo para ser penetrada - a sensação é ótima. Quando sinto que o orgasmo está próximo, aumento o ritmo dos meus dedos freneticamente, como se estivesse sendo penetrada por um homem, e estimulo a região. Para isso, faço força com o braço, não só com a mão. O resto, é resto”. Maria Eduarda*, bancária

*nome fictício


Por Mariana Zafalon